Outro dia li uma
frase de Mário Quintana, escritor tradutor e jornalista brasileiro, falando do
tempo. Na visão do saudoso poeta:
“o tempo é um ponto de vista. Velho é quem é um dia mais
velho que a gente.”
Refletindo sobre esse ponto de vista, deparei-me com um
artigo sobre gestão do tempo. Abordava a visão grega do tempo em dois sentidos:
Cronos e Kairos. Achei interessante e resolvi aprofundar a leitura.
Cronos, na visão dos sábios gregos, designa o tempo de
forma quantitativa, estatística, sequencial, ou seja: a maneira pela qual
podemos medir ou fracionar o tempo em dia, hora, mês, calendário… É o tempo
limitado, finito, absoluto. Diziam eles que Cronos é o tempo dos homens.
Kairos é mais interessante: refere-se a qualidade do
tempo. Kairos é o tempo certo, o momento oportuno. Um momento indeterminado em
que algo acontece. O tempo que não pode ser aprisionado pelas estatísticas e
relógios. O tempo divino.
A curiosidade levou-me a refletir, visto que pelas
exigências da vida moderna, não temos a percepção de Kairos. Embora os dois
tempos estão interligados em nosso dia a dia.
Falamos muito sobre administrar o tempo, gestão eficaz do tempo. São muitas as
considerações de como usar o tempo a nosso favor, produtivamente. Sempre no
contexto de Cronos.
Não percebemos que a vida é marcada pelos dois tempos.
Enquanto Cronos quantifica, Kairos qualifica nossas ações.
O que isso significa?
Perceber esta distinção possibilita viver em harmonia em
qualquer situação. Podemos viver o tempo de Cronos (prazos, horas, cronogramas)
qualificando e valorizando o cada momento, cada instante vivido, pois este é o
tempo certo para viver. Não existe outro tempo!
Podemos viver com qualidade por que Kairos é a ação que
muda o valor, o sentido de nossas ações. Conhecendo estes significados podemos
valorizar detalhes para tornar nossa vida mais simples, mais feliz, mais plena.
Se Cronos nos acompanha controlando nossos minutos, Kairos deve ser o nosso
aliado para viver bem cada momento.
É fácil aliar os tempos? Fazer os dois caminharem juntos?
Certamente não! Somos exigidos por tantas atividades: horários, reuniões,
prazos a cumprir, que 24 horas por dia,
parecem insuficientes.
Contudo, a
percepção de Kairos é necessária para
que possamos viver melhor. Pense na
alegria de uma meta atingida, de um convívio saudável com quem amamos, ou de
uma viagem inesquecível. Isso é qualidade, é o momento certo, o momento
oportuno! Viver bem estes momentos é encontrar prazer no que se faz, é
qualificar a vida.
O educador Rubem Alves foi muito feliz ao afirmar que “o
tempo pode ser medido de duas maneiras: com as batidas de um relógio, ou com as
batidas do coração”.
Aprender a conviver com esta ambiguidade, usando os dois
tempos, faz com que possamos medir o tempo por “um minuto” ou por “um
sentimento”, pois o momento que estamos vivendo, é único. É o tempo certo, o
momento oportuno! O tempo do universo, ou o tempo de Deus, como os gregos o
viam.
E você, em qual tempo está vivendo? Pense nisso.
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